“Comecei numa sexta-feira. Quarta-feira de manhã já estava sóbrio de tanto beber” – John O´hara (*)
Creio não ser preciso esclarecer a razão pela qual o “pular” carnaval praticamente exige o consumo anterior de bebida alcoólica.
Os abstêmios não entenderiam. Os normais sabem que esta é uma verdade tão absoluta que dispensa explicações.
Nos primeiros dos meus 21 anos de carnaval em São Luiz, a bebida preferida por mim e pelos primos era a Garapa, uma criação do Nhô Frade, grande músico do “Paranga” e simpaticíssimo dono do bar Canto Verde – hoje, triste e inteiramente destruído pela inundação.
A Garapa era preparada com conhaque, soda e limão. A soda e o limão clareavam o conhaque e a mistura ficava com a cor de caldo de cana, donde o nome.
A bebida, pelo que me lembro, era gostosa.
O problema era que, depois de três dias, ninguém agüentava mais nem sequer sentir o cheiro de Garapa.
Em uma terça-feira de carnaval, creio que 1991 ou 1992, preparávamos-nos para seguir o Bloco da Pipoca. Como diz a letra da marchinha, o folião deve se comportar como uma pipoca, ou seja, “pu-pu-pu-lar”, e, depois, “rodar, e rodar, e rodar”.
Ou seja, é preciso saúde. E muita animação!
Na preparação, afastamos a Garapa. Nossos fígados tinham definitivamente cortado relações com a criação do Nhô.
Foi então que um primo versado em alquimia criou o Boneco Flamejante. Uma saborosa e, soubemos mais tarde, traiçoeira, mistura de vodka, campari e soda.
O nome vinha do apelido do primo alquimista, Boneco, somado a uma associação com um episódio dos Simpsons, em que Homer inventara uma bebida que batizara de Homer Flamejante. A associação fazia sentido: os dois drinques literalmente flamejavam, embora o nosso apenas internamente.
Durante os anos seguintes, assim, o Boneco Flamejante substituiu a Garapa como nosso animador obrigatório para o carnaval.
Com o implacável girar dos ponteiros do relógio, eu e os primos da minha geração fomos, gradualmente, abandonando as poções mirabolantes, até nos restringirmos exclusivamente à cerveja, como única forma de sobreviver à quarta-feira de cinzas.
Recentemente, porém, uma prima muito próxima descobriu uma nova combinação nas barriquinhas da cidade, que virou febre entre os primos da geração mais nova – embora esta prima desbravadora, especificamente, nem seja tão jovem assim: Açaí com Vodka.
Uma paulada! Disfarçada, porém, com o argumento de que açaí seria coisa de atleta. Sei, sei...
A bebida não foi batizada, para o que aceitamos sugestões de nomes.
E, se tudo der certo, conseguiremos montar uma barraca para vender Açaí com Vodka no dia 20.
Quanto à Garapa e ao Boneco Flamejante, lamento. A Agência Nacional de Saúde proibiu sua comercialização. Ufa!
(*) John O´hara, 1905-1970, foi um romancista e contista norte-americano. Entre outros prêmios, ganhou o National Book Award com o livro “Ten North Frederick”.
A citação feita acima sofreu uma leve e justificável alteração. A original é: “Comecei numa quinta-feira. Sábado de manhã já estava sóbrio de tanto beber”.
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
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hahaha
ResponderExcluiraçaí com vodka!!! sensacional combinação!!!
da garapa não lembro..rs
até o dia 20, então!!!!
Sensacional, fiquei curioso com a combinação vodka com açai.
ResponderExcluirEspero mata-la já no dia 20.
Abs
Max
Comentário de um filósofo, bêbado contumaz, após um pifão homérico que quase o levou ao coma alcoólico: "NÃO ENTENDO ESSA GENTE QUE PRECISA BEBER PARA SE DIVERTIR..."
ResponderExcluirBoa! Ajuntando outra citação: "Eu bebo para que as outras pessoas fiquem interessantes" - George Jean Nathan.
ResponderExcluirSugestões de nome para o drink: Vokaí.Bódikaí. Vokaçaí.Parázurka. :)